Por Victor Lima
Que semana, amigos. Que semana. Uma daquelas que se arrastou enquanto as pessoas simplesmente clamavam pelo seu fim diante de tantos absurdos que chegaram atĂ© elas vindos do nosso ilustre governo. Na verdade, fica difĂcil atĂ© saber por onde começar, mas nĂŁo vamos fraquejar, nĂ©?
Nada que uma ordem cronolĂłgica nĂŁo resolva. 10 tiros: Logo na segunda-feira (8), o presidente Jair Bolsonaro (PSL) demitiu o ministro da educação, Ricardo VĂ©lez Rodriguez, apĂłs trĂȘs meses de polĂȘmicas envolvendo a pasta. Vale lembrar que essa foi a 15ÂȘ demissĂŁo em ministĂ©rios... TĂĄ escolhendo bem, hein?
20 tiros: No mesmo dia, nomeou Abraham Weintraub. Provando mais uma vez saber bem quem estå trazendo para o seu governo, Bolsonaro afirmou erroneamente que o novo ministro teria doutorado, fato checado aqui mesmo pelo Yahoo. Pouco depois corrigiu, fazendo o que faz de melhor até então: passando vergonha.
30 tiros: Opa, só mais uma coisinha sobre o tema! Achei legal reviver esse tweet do presidente, só com intuito de gerar reflexão. Depois de tanto apontar que Vélez não seria demitido, o que foi que acabou acontecendo mesmo? Bom, segue o baile.
40 tiros: TambĂ©m durante a posse de Weintraub, Bolsonaro deu uma aula de coerĂȘncia. E antes que os seguidores do presidente que sĂŁo Tchutchucas para uma sĂ©rie de problemas e viram TigrĂ”es a qualquer crĂtica ao capitĂŁo, segue aqui a aspa completa e dentro do contexto.
50 tiros: “Queremos uma garotada que nĂŁo esteja ocupando os Ășltimos lugares no Pisa. Queremos que nĂŁo mais 70% dessa garotada nĂŁo saiba fazer uma regra de trĂȘs simples, nĂŁo saiba interpretar textos, nĂŁo saiba perguntas bĂĄsicas de ciĂȘncias. Queremos uma garotada que comece a nĂŁo se interessar por polĂtica, como Ă© atualmente dentro das escolas, mas comece a aprender coisas que possam levĂĄ-las ao espaço no futuro”.
60 tiros: Bolsonaro quer que o Brasil vire uma potĂȘncia espacial, ultrapasse a NASA e ignore a polĂtica. Faz todo sentido, nĂŁo Ă© mesmo? Agora falando sĂ©rio, vocĂȘs realmente acham que os jovens nĂŁo precisam se interessar por polĂtica? Se nas escolas o tema nĂŁo Ă© abordado, teremos as prĂłximas geraçÔes omissas Ă realidade e aos provĂĄveis erros dos governos seguintes, afinal, errar Ă© humano e poder sobe sim, Ă cabeça. Mas, se preferem assim, sem problemas. Pode deixar que a gente ensina em casa mesmo.
70 tiros: No Twitter, Bolsonaro tem nos mostrado outra de suas fixaçÔes (tirando o ex-presidente Lula). Aparentemente, o presidente não gostou muito da confecção de uma camiseta cuja estampa é Adélio Bispo, autor do ataque com uma faca durante a campanha presidencial. Cuidado, estilistas.
80 tiros: Em meio os assuntos relacionados ao governo, como a redução do uso de passagens aĂ©reas por funcionĂĄrios da Usina Itaipu ou discursos em eventos, o presidente faz questĂŁo de reforçar uma punição mais grave para o autor do atentado. Bolsonaro, Seu Madruga jĂĄ dizia: “a vingança nunca Ă© plena, mata a alma e a envenena”. Sem contar que o Brasil tem problemas mais graves do que a condenação deste homem, certo?
Agora, se vocĂȘ chegou atĂ© aqui e estĂĄ se perguntando o porquĂȘ desse monte de tiros antes de cada parĂĄgrafo sem explicaçÔes, saiba que fiz exatamente o que o nosso presidente fez. Simplesmente ignorou o assunto que abalou o paĂs e deixou para os 45Âș do segundo tempo o momento de comentar o tema mais importante da semana.
Oitenta tiros. Foi este o nĂșmero de disparos que atingiram um carro na tarde de domingo (8) em Guadalupe, Zona Norte do Rio de Janeiro. No veĂculo estava o mĂșsico Evaldo dos Santos Rosa, de 51 anos, morto diante de sua esposa e seu padrasto, seu filho de sete anos e uma amiga. A famĂlia se dirigia para um chĂĄ de bebe.
A ação foi promovida por militares do Exército, que confundiram o carro com o de assaltantes da região. Além da morte de Evaldo, seu sogro, Sérgio, foi baleado. A criança até o momento do enterro de Evaldo, perguntava onde estava seu pai.
O caso comoveu o Brasil e nĂŁo recebeu atenção do presidente ao longo da semana. O governo quebrou o silĂȘncio dias depois, em mais uma declaração infeliz. Ministro da Justiça e da Segurança PĂșblica, SĂ©rgio Moro se limitou a dizer que episĂłdios deste tipo “podem acontecer”.
Somente na sexta-feira (12), Bolsonaro comentou o incidente. “O ExĂ©rcito nĂŁo matou ninguĂ©m, nĂŁo, o ExĂ©rcito Ă© do povo. A gente nĂŁo pode acusar o povo de ser assassino nĂŁo. Houve um incidente, houve uma morte, lamentamos a morte do cidadĂŁo trabalhador, honesto. EstĂĄ sendo apurada a responsabilidade”, disse.
Engraçado essa histĂłria de um peso e duas medidas. Na boca de Bolsonaro e seus seguidores, cansamos de ouvir que o PT quebrou o paĂs. Mas se formos analisar, o PT representava ninguĂ©m menos do que o prĂłprio povo, jĂĄ que elegeu representantes da legenda democraticamente. Foi o povo que destruiu o Brasil nos Ășltimos anos, entĂŁo?
O ExĂ©rcito assassinou, sim, um homem negro diante de sua prĂłpria famĂlia, Bolsonaro. Oitenta tiros jamais serĂŁo um incidente e nĂŁo tem como acabar esse texto com humor diante de um posicionamento destes. Era melhor ter continuado sensibilizado Ă condenação de um comediante nas redes sociais. Talvez seu silĂȘncio machucasse menos.
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