Ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ouvidos pelo blog avaliam que o discurso de posse de Alexandre de Moraes ao tomar posse na presidência da Corte emparedou Jair Bolsonaro (PL) e constrange- a curto prazo- a estratégia do presidente de atacar as urnas eletrônicas.
Em sua fala, Moraes defendeu o sistema eleitoral brasileiro diante de uma plateia que contava com ex-presidentes, governadores, ministros e o próprio Bolsonaro. Disse que a Justiça Eleitoral seria "célere , firme e implacável" no combate às informações falsas e que a Constituição não permite a divulgação de mentiras que ataquem as eleições. Bolsonaro nunca apresentou provas das falsas alegações que faz contra as urnas.
A dureza do discurso – feito na presença de Bolsonaro e do filho Carlos, que comanda a estratégia e comunicação do presidente – surpreendeu aliados do presidente, que admitem constrangimento- embora a versão oficial é a de que Bolsonaro foi avisado de que Moraes faria um discurso sobre urnas e democracia. Verdade: mas não imaginavam a contundência, admitem interlocutores do presidente ao blog.
A ida de Bolsonaro ao evento foi costurada por esses mesmos aliados, após pesquisas encomendadas pela campanha da reeleição mostrarem que os ataques ao sistema eleitoral tiravam votos do presidente ao assustar poucos eleitores indecisos que ainda restam no país e não querem instabilidade democrática.
Agora, esses interlocutores justificam ter alertado Bolsonaro de que Moraes defenderia as urnas, mas que não esperavam esse tom e tentam cobrar uma falsa reciprocidade: como Bolsonaro foi ao evento, esperam que Moraes faça algum “gesto” a Bolsonaro com alguma sugestão acatada de militares sobre a fiscalização na apuração. Ministros do TSE ouvidos pelo blog não acreditam em cessões de Moraes como parte de um acordo, como faz querer parecer o Planalto- e, sim, se ocorrer- como decisão do ministro se achar conveniente.
A presença de Lula no evento – que integrantes do Centrão evitaram cumprimentar para não irritar Bolsonaro – também esvaziou a aura de deferência que esses aliados tentavam dar à presença do presidente no evento.
Como o blog revelou na semana passada, Bolsonaro foi pessoalmente convidado para a posse por Moraes- mas, o ministro também convidou ex-presidentes, o que diluiu a ideia de “convidado vip” que o Planalto queria emplacar com Bolsonaro presente na posse.
Expectativa sobre o 7 de Setembro
Entre ministros do TSE, a avaliação é que o registro público do presidente e da população se torna um "leão desdentado", em referência à perda de força do discurso antissistema com o qual o presidente busca a reeleição.
A dúvida, agora, é sobre o que o presidente fará em relação ao 7 de Setembro, que em 2021 foi transformado pelo presidente e seus apoiadores em uma afronta direta à democracia, com ataques ao Judiciário e ao Legislativo.
Até recentemente, o presidente vinha articulando para fazer a mesma coisa em 2022. Os ministros do TSE aguardam para ver se ele abandonará a ideia ou – como dizem de forma irônica – transformará o 7/9 em 14/9 – ou seja, dobrará a aposta.
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