Para quem se qualifica como o emissário da lei e da ordem, o presidente Donald Trump demonstrou, com uma canetada, o desprezo e o deboche que nutre pelo sistema judiciário dos EUA, ao perdoar, de uma vez só, 1.500 acusados e condenados pelo ataque ao Capitólio.
Mais do que encerrar o caso, ele pretende reescrever esse capítulo sombrio da História americana. Mudou os papéis dos apoiadores que, em seu nome, vandalizaram a sede do Congresso e usaram armas para atacar violentamente os policiais e os congressistas, tentando impedir a certificação do resultado eleitoral de 2020 e a transferência pacífica do poder.
A maioria dos acusados e condenados se declarou culpada pelos crimes, mas o atual presidente transformou-os em vítimas. “O que fizeram com essas pessoas é ultrajante”, justificou Trump após assinar a batelada de perdões.
Em outras palavras, o atual presidente dos EUA envia a mensagem de que o crime tem plena recompensa. E que a memória do 6 de janeiro pode ser posta em xeque, distorcida e recriada com base na sua realidade falsificada — a de que havia agentes externos da esquerda e do FBI entre os vândalos.
O ato de clemência em massa assinado pelo presidente em seu primeiro dia no cargo concede “perdão total, completa e incondicional” aos insurrecionistas e “põe fim a uma grave injustiça nacional que foi perpetrada contra o povo americano”.
Isso inclui a comutação de penas de 14 integrantes de organizações extremistas como os Proud Boys e os Oath Keepers, condenados por conspiração sediciosa.
Líder do primeiro grupo, Enrique Tarrio será libertado da prisão federal onde cumpre pena de 22 anos, mas não terá seus direitos civis restaurados, como ocorre no perdão presidencial. Por enquanto. Trump já antecipou que o governo vai rever esses casos para que os implicados recuperem o direito de portar armas ou votar.
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