Por Andréia Sadi
Apresentadora do Estúdio I, na Globonews, comentarista de política da CBN e escrevo sobre os bastidores da política no g1
Desde que foi derrotado nas urnas, o presidente Jair Bolsonaro (PL) se recolheu e decidiu falar publicamente apenas após a pressão de aliados – ministros do Centrão e o governador eleito de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos), fazem parte deste grupo.
Após fazer duas declarações curtas – uma, para reconhecer a derrota; outra, para pedir que bolsonaristas parassem de bloquear rodovias –, e participar de um encontro com o Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro voltou para o silêncio.
O presidente tem causado surpresa até no núcleo mais próximo, já que ao longo do mandato Bolsonaro transformou os palácios– principalmente o da Alvorada, residência oficial – em palcos para seus discursos barulhentos e conspiratórios.
Ministros do governo relataram ao blog que Bolsonaro diminuiu significativamente até mesmo as mensagens de WhatsApp – meio de comunicação preferido do presidente – a assessores e aliados.
Nos bastidores, além da dor na perna causada por uma inflamação, o recolhimento de Bolsonaro é atribuído por aliados a um inconformismo por ter perdido e à preocupação crescente com seu futuro e o dos aliados na Justiça.
Como tinha para si que ganharia a eleição, Bolsonaro não se preparou para um mundo sem foro privilegiado e sem poder e, relatam aliados, só se deu conta durante a apuração do domingo do 2º turno de que estaria descoberto juridicamente e politicamente.
Bolsonaro quer manter viva a ideia de que foi injustiçado, mesmo que em voo solo, já que, nessa tática, foi abandonado por todos os aliados. Até porque, como afirmam, com ela o presidente coloca todas as eleições de bolsonaristas em suspeição, incluindo as de seus filhos, que vão continuar a gozar de foro privilegiado.
Como o blog revelou, na conversa que teve com ministros do STF na semana em que falou pela primeira vez após a derrota, Bolsonaro ouviu que os integrantes da Corte não tinham espírito de retaliação.
Mas Bolsonaro não se convenceu, e teme que a fala valha apenas para o que se sabe sobre possíveis omissões e irregularidades na superfície. Ou seja: Bolsonaro não tem garantias de que não será alvo da Justiça, assim como seus aliados como o ministro da Justiça Anderson Torres, os filhos e os empresários que patrocinaram atos golpistas.
Ministros do STF consultados pelo blog reiteram que a ideia – revelada pelo blog em agosto – de um pacto de governabilidade entre Congresso, governo eleito, Judiciário e governo derrotado de se aprovar uma espécie de cargo de senador vitalício, o que beneficiaria Bolsonaro, "vai e vem".
Mas, diante da postura combativa e nada republicana de Bolsonaro com o resultado das eleições, líderes do Congresso têm dito ao Palácio do Planalto que não há clima nem ambiente para se aprovar uma tal proposta, e que ela depende de clima de pacificação.
Apoio do PL a Bolsonaro vai ser emprego, não golpismo
Enquanto Bolsonaro não define como atuará publicamente, o presidente ainda busca qualquer medida do PL para tentar impugnar as eleições. O partido tem dito o que Bolsonaro quer ouvir, mas, na prática, está no futuro: em 2023, no governo Lula, com quem o presidente da legenda, Valdemar da Costa Neto, não quer confusão.
Já que não vai entregar o combo golpista a Bolsonaro, o PL pretende entregar não só um conforto, mas um salário, um emprego mesmo, para que o presidente tenha como custear uma nova moradia em Brasília.
O blog apurou junto a fontes da transição de Lula que, até agora, não há nenhuma sinalização nem de Bolsonaro nem do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a quando o presidente pretende desocupar o Palácio da Alvorada e a Granja do Torto.
O PL informou ao blog que o partido ainda está procurando uma casa e que Valdemar ficou de conversar com Bolsonaro na semana que vem.
Dois mundos
Na visão de um dos mais próximos auxiliares de Bolsonaro, hoje, existem dois mundos para Bolsonaro. O real, que recebe Lula na COP-27, que tem os presidentes do Estados Unidos, Joe Biden, e da China, Xi Jinping, cumprimentando o presidente eleito em janeiro e que vai vestir a faixa presidencial em janeiro.
E tem o outro, o paralelo, dos "Allan dos Santos, das [Carla] Zambellis... que faz muito barulho dizendo que não vai deixar ninguém subir a rampa [do Planalto] mas que não leva a lugar algum. Talvez, na verdade, os leve para o banco dos réus", como diz ao blog um ministro do governo Bolsonaro.
É nesse segundo mundo, diz o auxiliar, que Bolsonaro parece querer viver.
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